Hoje venho aqui partilhar convosco a minha singela opinião sobre uma espécie de hamor muito em voga, que parece ter pegado de estaca no dia-a-dia dos apaixonados.
Minhas amigas, estou precisamente a falar do hamor mata-borrão.
Ora, esta espécie de hamor mais não é que a usurpação total e sem pingo de vergonha, do afecto e da dedicação alheia.
A função primária e quiçá única deste mata-borrão é principalmente absorver o excesso de hamor que a outra pessoa generosamente dá.
Ah, pois é. O mata-borrão anda sempre disfarçado de distraído mas pelo rabinho do olho vai espreitando onde é que pode deitar a mão, de que forma pode levar vantagem, que pedacinho pode abixar mais, enfim, é o verdadeiro esmifra do hamor.
O mata-borrão aproveita-se da roupa lavada, da loiça na máquina, das compras feitas, da comida na mesa, da sopa do dia, da casa em ordem, dos mimos, da disponibilidade da outra, dos sorrisos e abraços sempre abertos, do ombro amigo, das festas na cabeça, na ajuda nos projectos e no incentivo dos sonhos, no bem-estar, no sucesso. Do seu próprio, evidentemente.
Não se pense porém que apesar de todo o egoísmo e falta de vergonha na cara, o mata-borrão afia as garras em tudo à sua volta e vai embora de forma ténue. Não, nada disso. Como qualquer mata-borrão que se preze, suga tudo mas deixa marca.
Deixa manchas escuras, indeléveis, sombras que se abatem sobre a outra parte com sabor a ingratidão, incompreensão, desamor e sobretudo uma enorme frustração.
No princípio, aquela que deu sem mãos a medir, ainda esboça uma quase reclamação, uma quase queixa, depois passa para a fase de recriminação velada e sem palavras e nos casos mais graves descamba na resignação.
E se pensam que o hamor mata-borrão dá conta do vazio nos olhos da outra, do desencanto no seu coração, do afrouxar da alegria no regresso a casa, desenganem-se. Quando finalmente notar que a roupa não está na gaveta, que a pasta dos dentes acabou e que o frigorífico está vazio, o primeiro pensamento será, não para aquela que sempre manteve o barquinho no rumo certo, mas sim na próxima que vai segurar no leme.
O mata-borrão tem mais que fazer e com que se preocupar do que com as tarefas comezinhas do quotidiano.
11 comentários
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Novembro 26, 2010 às 6:19 pm
righpa
Pagu o amor de que fala é mais o hamor mata hamor, se é que se pode chamar isso a uma balança totalmente desprovida de equilibrio, em quem recebe apenas vive de hamor alheio porque lhe falta o hamor próprio e quem oferece se esquece que hamar-se numa relação a nós é uma construção a passos para algo que se prevê bonito no equilibrio entre o eu, o tu e o magnifico nós.
Mas esse caminhar nem sempre é simples e o óbvio, a resposta a impulsos e a vontades é a maioria das vezes, para não dizer a regra com rarissimas excepções, onde se procura esse senhor.
Mas para acalmar podemos sempre dizer que tudo isso pode aparecer da forma como fomos educados … é por si só uma resposta desprovida de vontade de descobrir e de se conhecer, olhar-se ao espelho e ver a nossa imagem reflectida é das coisas mais duras, nem sempre temos essa gana e esta resposta torna-se muitas vezes valida.
Novembro 26, 2010 às 9:01 pm
Pagunatanga
Sim menina Righpa, hamor mata-hamor também me parece uma boa ideia. E tantas crónicas que se poderiam escrever a respeito……
Sabe que eu acho que a menina é capaz de ter muita razão nessa coisa de cada um ser no hamor aquilo que realmente é, muito fruto da forma como foi educado? Não sou de acreditar em milagres, em pessoas que na vida, no trabalho, ao volante, são uma coisa e no hamor são outra.
Então, o tal do espelho, deve ser mesmo duro de encarar, hein?
Eu, cá por mim, acabei de inventar a balança do hamor, com três pratos. Eu, tu, nós. Quando todos estiverem nivelados, aí sim, pode resultar.
O que me dizem, ah?! É ou não é uma invenção de se lhe tirar o chapéu?
🙂
Novembro 26, 2010 às 9:48 pm
righpa
Menina Pagu, lá porque não registrei a patente não pode começar para ai a roubar ideias … mas olhe, acho que estas suas crónicas contra o dito cujo merecem que eu lhe diga que essa “sua” ideia é de se lhe tirar o chapéu sim senhora … só não compreendo como pode inventar uma balança do hamor se não acredita nesse senhor … olhe só o tamanho da contradição lololol
Novembro 26, 2010 às 10:08 pm
Pagunatanga
Está bem, está bem, eu divido os créditos, os louvores, os óscares, os emmys, os globos de ouro, divido tudo consigo no que a esta balança de três pratos diz respeito. Hoje é 6ª feira, posso até parecer um ser humano razoável.
Agora menina Righpa, mesmo não acreditando no dito cujo, não há duvida que algumas pessoas, acho mesmo que muitos milhares, estão convencidas que ele existe. Assim sendo, porque não continuar a enlouquecer o mundo, colocando à sua disposição instrumentos capazes de medir o que não existe? Quer mais alucinado que isto?
Os primeiros rendimentos com a nossa patente serão para um jantar com a malta tanguistica. Que me diz? Como vamos vender muito, podemos optar por um local tipo Paris, Nova York, Buenos Aires……vota?
🙂
Novembro 26, 2010 às 8:12 pm
Luanda69
A menina não pára de fazer correr ‘tinta’ sobre o ‘hamor’ e agora critica aquelas que, semana após semana, absorvem tudo quanto debita. Está mal! É feio.
E depois, se o ‘hamor’ é uma nódoa o que faz falta é mesmo um bom ‘mata-borrão’. Não é assim?
Novembro 26, 2010 às 9:06 pm
Pagunatanga
Menina Luanda, em primeiro lugar, permita-mse que a corrija. Toda a “tinta” que esbanjei ao longo destes meses, não foi sobre o hamor mas sim contra o hamor. As crónicas são um achincalhamento ao hamor.
Depois, eu não critico quem absorve, critico e tenho vontade de abanar, quem se deixa absorver, esmifrar, quem se reduz ao acto de dar, que por muito nobre que seja, tem que ser sempre feito com o devido respeito por si próprio.
Mas numa coisa a menina tem razão, o hamor é uma nódoa, não há spray, tira-nódoas, lexivias, nada que apague a sua marca manhosa.
🙂
Dezembro 2, 2010 às 5:49 pm
noiseformind
A sucker is born every day, Dizia o grande PT Barnum. Entao se el@s nascem porque carga de agua nao se ha-de aproveitar essa oferenda divina? Chegar ao restaurante e pedir sem incomodo, que a conta ja esta a partida tratada. Escolher a roupa sem olhar a etiqueta, que essa ja tem quem se veja a bracos com ela. Comprar da marca que nao e baratinha e sem piada mas da que gostamos, que so interessa o gosto, na passagem pela caixa alguem ha-de fazer o milagre de passar o cartaozinho. Eu acho muito bem esse tipo de amor, e um amor despreocupado e neglige, com uma taxa de 100% de desemprego e uma taxa de 100% de egoismo. Os burros de carga que carregam esses amores mais nao fazem do que pagar pela sua inseguranca. Sao inseguras de si proprias, auto-estima em baixo e pensam que com carregar o mata-borrao a coisa fica equilibrada. E uma especie de pulseirinha da energia mas muito mais cara e que nao se tem de usar ao pulso 🙂 bom post. Abracos
Dezembro 3, 2010 às 1:01 am
tangas
gostámos da tanga do noise :)))))))))))))))))
Dezembro 3, 2010 às 10:57 am
pagunatanga
Gostámos sim senhora….este seu blogue, menina Tangas, é fixe. 🙂
Dezembro 3, 2010 às 10:55 am
pagunatanga
Essa da pulseirinha teve graça…rsrs….gostei da abordagem ao tema e de verificar que o mata-borrão tem os dias contados. 🙂
É bom mesmo abrir o olho, até porque bem vistas as coisas e em última análise, somos nós próporios os responsáveis por aderir ou não à moda do mata-borrão.
E nesse patamar, minhas caras, o equilibrio nunca será encontrado.
Volte sempre noiseformind. 🙂
PS. Muito obrigada pelo elogio 😉
Dezembro 3, 2010 às 11:47 am
tangas
eu cá acho que o noise vota na pulseira virtual do H mata-borrão 🙂