Disse-me a certa altura uma amiga, é assim mesmo: neste mundo convivemos simultaneamente com budas e trogloditas, entendendo eu que ela se referia a todas as diferentes pessoas com que nos vamos cruzando ao longo da vida, umas mais iluminadas e outras nem tanto.
Ora eu cá acredito na evolução das espécies, pura e dura, desde os tempos em que as primeiras trogloditas entenderam começar a caçar as suas parceiras, desrespeitando por completo a pulsão da época, que condenava as pobres ao exclusivo assédio masculino. E digam-me lá então se a espécie não evoluiu, desde essas istaporadas mulheres da moca, às sacerdotisas a quem se confiava até a educação das virgens, passando pelas incursões no mundo andrógino das amazonas guerreiras, essa ramificação truculenta da espécie, mais voltada para a conquista de domínios dos dois lados da cerca.
É claro que essas veleidades se evaporaram com o domínio cristão do Ocidente, quando as primas mais decididas passaram pelo crivo da fogueira das bruxas, repondo-se a boa ordem social com mão de ferro e muita lenha para provar que, depois de passadas pelo  lume, as hereges podiam ser finalmente vistas como andariam provavelmente pelos reinos infernais, negras e consumidas pelos seus pecados.
A dita espécie foi então obrigada a aperfeiçoar a camuflagem que, com o correr dos tempos, deu origem a outros estágios de evolução. A prima disfarçada de varão e, posteriormente, as primas masculinizadas, voltaram a desafiar a ordem imposta, dando origem às míticas joanas d’arc, papisas joanas,  às sandes e às steins.
Estamos a falar de uma espécie industriosa, que soube aproveitar as subtilezas sociais para ressurgir em diversas formas ao longo dos tempos. Com o advento da industrialização, floresceu em operárias a quem se perdoavam os modos varonis pelo resultado do violento labor. Durante as guerras, pela capacidade com que trajavam calças e contribuíam para o esforço de guerra. Com a chegada das grandes democracias, com a coragem de disputar a igualdade ocupando cargos tradicionalmente masculinos.
As primas camionistas abriram a punho muitas portas, mas nem assim se deteve a evolução, que qual casulo de larva metamorfoseou as sólidas operárias em desportistas andróginas prontas para encantar as grandes massas com os seus feitos de deusas em jogos primitivamente destinados ao sexo forte.
As exigências sociais exigiram, entretanto, que as primas de dúbia aparência abandonassem os fatos de treino e os sapatos de desporto para assumir o papel de mulheres de negócios e de inteligência, criando uma raça de powerwomen capaz de fazer frente a qualquer lobby masculino que se preze.
Abalado, no entanto o fantasma do profissionalismo só para meninos e na eminência da crise económica criada pela voracidade dos mercados financeiros, em que a precaridade do trabalho e da segurança voltou a chamar para a linha da frente os seus parceiros masculinos na competição pelas posições de poder, a espécie das primas voltou a mostrar a sua extraordinária capacidade evolutiva.
Qual fénix renascida das cinzas, voltou a vestir as plumas e adereços, as saias, o batom e os saltos altos, associando a capacidade de trabalho, a adaptabilidade, a inteligência e o humor às mais poderosas e femininas das qualidades: a beleza e a sedução.
De tal forma que foi preciso criar um metroman para lhe fazer frente e, mesmo assim, não está assegurado o sucesso do modelo.
Digam lá se a espécie não é tremendamente evolutiva e se há forma de lhe resistir, sobretudo  agora que parecem tão bem, tão belas e tão seguras, convivendo tão facilmente com tudo e com todos, entre budas e trogloditas, sem partidarismos excessivos nem radicalismos redutivos.
Creio que é um exemplo a seguir, este das primas adaptativas e em constante revolução.